ANEEL: Análise da 31ª Reunião Pública Ordinária de 2025
Resumo das principais discussões, temas e decisões da 30ª Reunião Pública Ordinária da Diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) de 2025, de 26/08/2025
ANÁLISE DE REUNIÕES PÚBLICAS
Halvor Data
8/27/202510 min read

Este briefing documenta os principais temas, decisões e discussões das 1ª e 31ª Reuniões Públicas Ordinárias da Diretoria da ANEEL em 21 de janeiro de 2025 e 26 de agosto de 2025, respectivamente, com foco nos fatos e ideias mais importantes.
1. 31ª Reunião Pública Ordinária da Diretoria da ANEEL (26 de Agosto de 2025)
1.1. Contexto e Quórum A reunião foi presidida pela Diretora substituta Agnes Maria de Aragão da Costa, com a presença dos Diretores Fernando Daniel e Ivo (remotamente), e a ausência justificada do Diretor-Geral Sandoval Feitosa. O quórum de quatro diretores foi considerado apto a deliberar. Notavelmente, Gentil Nogueira e Willam Frota tiveram suas indicações aprovadas no Senado Federal para compor a diretoria da ANEEL e aguardam publicação no Diário Oficial para posse.
1.2. Leilões de Energia
Leilão de Energia Nova-5 de 2025 (22 de agosto):
Destinado à compra de energia elétrica de novos empreendimentos hidrelétricos.
Negociados R$ 4 bilhões em contratos, viabilizando a construção de 65 usinas hidráulicas (55 PCHs, 8 centrais geradoras hidrelétricas e 2 usinas hidrelétricas).
Entrada em operação prevista até 1º de janeiro de 2030, com entrega por 20 anos.
Um desconto de 3,16% em relação ao valor teto do leilão resultará em economia de R$ 64,8 milhões para os consumidores brasileiros.
Nove distribuidoras fecharam contratos, sendo Amazonas Energia (148,8 MW médios) e Neoenergia Bahia (87 MW médios) as maiores compradoras, adquirindo mais da metade dos 384 MW médios negociados.
Leilão de Transmissão nº 1 de 2026:
Consulta Pública nº 28 de 2025 aberta em 21 de agosto para análise e contribuições ao edital.
Previsão de R$ 3,31 bilhões em investimentos.
Será realizado na sede da B3 em São Paulo.
Cinco lotes serão leiloados para construção e manutenção de 661 km de linhas de transmissão e 2400 MW em capacidade de transformação.
Empreendimentos em 12 estados (Bahia, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe).
Prazo de conclusão das obras entre 42 e 60 meses.
Estimativa de 9.027 novos empregos diretos e indiretos.
Leilão para Suprimento aos Sistemas Isolados de 2025 (Aprovação do Edital):
O edital do Leilão nº 1 de 2025 foi aprovado, com sessão prevista para 26 de setembro de 2025, às 10 horas da manhã.
Destinado à aquisição de energia e potência elétricas para 11 localidades nos estados do Amazonas e Pará, divididas em 3 lotes.
Início do suprimento definido para 20 de dezembro de 2027 para 10 localidades e 1º de dezembro de 2030 para Coari. Período de suprimento de 180 meses.
Grande novidade: Participação mínima de 22% da energia a partir de fonte renovável ou a gás natural.
Valores teto estabelecidos: Lote 1 (Amazonas) - R$ 3.500/MWh; Lote 2 (Amazonas) - R$ 1.800/MWh; Lote 3 (Pará) - R$ 3.000/MWh. O Diretor destacou que os lotes a óleo estão mais caros do que eram, enquanto o gás ficou bem mais barato.
As localidades de Anamã, Capiranga e Codajás (Lote 2) são consideradas prioritárias, com incentivos para antecipação do suprimento.
A metodologia de cálculo do preço de referência e a inclusão da parcela PETRIB (incidência de ICMS na compra de combustível) no contrato foram pontos de debate. A CCE será excluída como interveniente no CCZI, e as funções serão incorporadas ao edital.
1.3. Armazenamento de Energia
A Consulta Pública 39, que trata do marco regulatório do armazenamento no Brasil, foi retirada de pauta pelo Diretor Dano.
O Secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento, Dr. Gustavo Taídio, solicitou a retirada para alinhar as diretrizes do leilão de armazenamento com a regulação da ANEEL.
Uma nova consulta pública será aberta no final de setembro de 2025 para consolidar discussões técnicas e regulatórias.
A intenção é realizar o leilão de armazenamento no início de 2026.
É crucial que a definição da forma de contratação e tarifação do uso da rede não seja um obstáculo para a inserção do armazenamento no Sistema Interligado Nacional (SIN).
Serão realizadas reuniões técnicas entre ANEEL e MME nas próximas semanas para garantir o sucesso da implementação.
1.4. Inovação e Fiscalização
Prêmio Inovação da ANEEL:
Primeira edição será em setembro, no CTENEL em Manaus.
Vencedores na categoria "Pessoa Inovadora do PD ANEL - Pesquisador": Professor Rogério Sales Gonçalves (UFU), especialista em robótica e biomânica.
Vencedor na categoria "Pessoa Inovadora do PD ANEL - Profissional": Rafael Zimerman Roman (Celestec), com sólida experiência em engenharia elétrica e transformação no setor.
Workshop "Horizonte Renovável: a era dos data centers no Brasil":
Será promovido pela ANEEL em 4 de setembro na sede da agência em Brasília.
Reunirá especialistas para debater impactos, desafios e perspectivas dos data centers no setor elétrico.
Medida Cautelar da ABRAD contra Plano de Resultados da SFT:
A ABRAD solicitou a suspensão da fiscalização através do plano de resultados para os indicadores de Tempo Médio de Atendimento Emergencial (TEMAI) e percentual de interrupções de longa duração não expurgáveis (>24h).
A associação alegou falta de regulamentação formal, ausência de Análise de Impacto Regulatório (AIR) e consulta pública, e descumprimento da Resolução Normativa 846/2019 (que proíbe a criação de novas obrigações por planos de resultados).
A Diretoria, por unanimidade, decidiu conhecer e negar provimento ao pedido de medida cautelar.
O Diretor relator Daniel Dano argumentou que o plano de resultados não cria novos indicadores ou obrigações regulatórias, mas serve como referência para acompanhamento e indução à melhoria. A SFT identificou deterioração no TEMAI nos últimos 10 anos.
A Procuradoria-Geral enfatizou que o plano de resultados é um instrumento de regulação responsiva, baseado na persuasão e estímulo à conformidade voluntária, não uma imposição regulatória. Se o regulado não concordar, ele se submete ao processo sancionatório.
Modernização da UHE Jacuí (CSN Energia):
Pedido de medida cautelar da CSN Energia para impedir a suspensão da operação comercial da UHE Jacuí até o fim do seu procedimento de modernização.
A usina foi totalmente inundada em maio de 2024 (classificado como evento de força maior pelo ONS) e iniciou a modernização em junho de 2025.
A CSN argumenta que a indisponibilidade não é imputável, a ANEEL já reconheceu a distinção entre mundo físico e comercial, e o prazo de 12 meses para modernização (Resolução 1033/2022) só deveria contar a partir de julho de 2025. A paralisação até junho de 2025 foi por calamidade pública.
A Diretora relatora Agnes Maria de Aragão da Costa se manifestou pela negativa da cautelar, argumentando que a usina está impedida de disponibilizar energia e que a modernização superaria os 12 meses previstos na regulamentação. O caso deve ser analisado no mérito.
O Diretor Fernando Luiz Mosna Ferreira da Silva pediu vista do processo, o que posterga a decisão.
Indicadores de Performance Organizacional do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico):
A Diretoria decidiu, por unanimidade, instaurar Consulta Pública (intercâmbio documental, 33 dias a partir de 28 de agosto de 2025) para colher subsídios para a definição dos indicadores e metas de performance organizacional do ONS para o ciclo de janeiro de 2026 a dezembro de 2028.
A Diretora Agnes propôs que a consulta considere indicadores relacionados a:
Cumprimento de decisões da agência e multas.
Controles internos do ONS (ex: casos de documentos não acessados que geraram ônus retroativo).
Inadimplência (mapeamento claro e fidedigno de encargos e garantias não recolhidas).
Transparência (acesso dos agentes às informações, especialmente em cenários operacionais desafiadores).
O Diretor Mosna concordou com a relevância dos temas levantados, como o caso Coremas e a transparência na classificação de curtailment, e pretende discutir esses pontos com a diretoria e áreas técnicas do ONS.
1.5. Revisão Tarifária Periódica da Energisa Paraíba:
Aprovado o resultado da Revisão Tarifária Periódica (RTP) de 2025 da Energisa Paraíba, a vigorar a partir de 28 de agosto de 2025.
Efeito médio percebido pelos consumidores: 13,59%, sendo 12,11% para alta tensão e 13,94% para baixa tensão.
A parcela A (custos não gerenciáveis) contribuiu com 5,44%, sendo 4,42% para encargos setoriais (destaque para CDE Uso e CDE Geração Distribuída) e 0,80% para transporte de energia.
A parcela B (receita da distribuidora) contribuiu com 1,29%, com a nova base de remuneração regulatória contribuindo positivamente (3,80%).
Os componentes financeiros contribuíram com -4,04% (negativo), principalmente pela retirada de itens financeiros do ano anterior (10,89%).
O fator X (busca equilíbrio entre receitas e despesas do consumidor) inclui componentes T (trajetórias de perdas, 1,46%) e PD (produtividade, -1,388%).
Perdas técnicas fixadas em 8,572% e perdas não técnicas em 7,915% (reduzindo para 7,325% até 2028).
A Diretora Agnes destacou o peso crescente dos encargos setoriais (CDE Uso: 2,71%; CDE GD: ~1%) na conta de luz, mesmo com reduções pela quitação das contas COVID e escassez hídrica, e a importância de debater isso no Congresso.
O Diretor Mosna mencionou a notícia do G1 sobre a deflação de 0,14% no IPCA-15 em agosto, com a energia elétrica residencial caindo quase 5% devido ao bônus de Itaipu, destacando o acerto da decisão da ANEEL em repassar um valor maior aos consumidores.
2. 1ª Reunião Pública Ordinária da Diretoria da ANEEL (21 de Janeiro de 2025)
2.1. Abertura e Participantes: A reunião foi presidida pelo Diretor-Geral Sandoval de Araújo Feitosa Neto. Os diretores Ricardo Lavorato Tili, Fernando Luiz Mosna Ferreira da Silva e Agnes Maria de Aragão da Costa estiveram presentes. A diretora Ludimila Lima da Silva não participou por licença.
2.2. Leilão para Suprimento aos Sistemas Isolados de 2025:
Processo 48500.003802/2024-42: A Diretoria, por unanimidade, decidiu instaurar Consulta Pública, no período de 22 de janeiro a 10 de março de 2025, com o objetivo de colher subsídios e informações para o aprimoramento da proposta de Edital do Leilão nº 1/2025-ANEEL. Este leilão destina-se à aquisição de energia e potência elétricas para atender aos mercados consumidores dos Sistemas Isolados. A decisão incluiu a aprovação do Aviso de Abertura de Consulta Pública nº 2/2025. O Secretário Adjunto de Leilões, Renato Braga de Lima Guedes, realizou uma apresentação técnica.
Comentário: Esta decisão é a etapa inicial para o leilão cujo edital foi aprovado na 31ª Reunião em agosto, demonstrando a continuidade dos processos regulatórios da ANEEL ao longo do ano.
2.3. Outros Processos Relevantes (Retirados de Pauta ou com Pedido de Vista): Diversos processos foram retirados de pauta ou tiveram pedido de vista, indicando a complexidade e a necessidade de aprofundamento em temas como:
Regulamentação dos efeitos tarifários da quitação antecipada das Contas Covid e Escassez Hídrica.
Tratamento regulatório de empreendimentos abarcados pela Medida Provisória nº 1.212/2024.
Recursos Administrativos relacionados a autos de infração de distribuidoras (CEEE-D) e multas por atraso na implantação de usinas (UTE Jaguatirica II, UTEs EPP II, EPP IV, Rio de Janeiro I, Edlux X).
Pedidos de Reconsideração sobre tarifas de uso do sistema de transmissão (TUST) e condições de operação de usinas termelétricas.
Suspensão de prazo para declaração de participação em mecanismos de alocação de energia.
Reconhecimento de excludente de responsabilidade por descumprimento de cronograma de implantação de UTEs e PCHs.
Medidas cautelares sobre orçamentos de conexão e desligamento por descumprimento de obrigações.
Transferências de participação em concessões (UHE Corumbá III).
Prorrogação de concessões (UHE Jauru).
Declarações de Utilidade Pública para desapropriação e servidão administrativa para implantação de subestações e linhas de transmissão em diversos estados.
2.4. Destaque do Processo 19 (UTE Jaguatirica II):
Processo 48500.905055/2019-10: Trata de um Termo de Intimação de Penalidade Editalícia (TIPE nº 28/2022) referente à UTE Jaguatirica II. O Diretor-Geral Sandoval de Araújo Feitosa Neto pediu vista. O Diretor Relator Ricardo Lavorato Tili votou por dar provimento ao Requerimento Administrativo da Azulão Geração de Energia S.A. e converter a multa editalícia em advertência devido ao atraso na implantação. A Diretora Agnes Maria de Aragão da Costa, acompanhada pelo Diretor Fernando Luiz Mosna Ferreira da Silva, abriu divergência, votando pela aplicação da multa editalícia, considerando a ofensividade da conduta e o atraso de 10 dias da primeira unidade geradora.
Comentário: Este processo exemplifica o debate dentro da ANEEL sobre a aplicação de penalidades, considerando tanto o histórico da infração quanto o contexto e as circunstâncias envolvidas.
2.5. Bloco da Pauta (Itens 22 a 91): Uma vasta gama de processos foi deliberada em bloco, incluindo:
Reajuste Tarifário Anual da Roraima Energia S.A. (efeito médio de -3,70%).
Abertura de Consulta Pública para aprimoramento das Regras e Procedimentos de Comercialização, focando em empreendimentos hidrelétricos não despachados centralizadamente no MRE.
Recursos Administrativos diversos sobre faturamento incorreto, multas, revisão de RAP, e declarações de Utilidade Pública para subestações e linhas de transmissão em vários estados.
Destaque para a aprovação da transferência da participação na concessão da UHE Corumbá III para Neoenergia Renováveis S.A.
Extinção de concessões de PCHs da CEEE-G no Rio Grande do Sul.
Prorrogação de prazo para pedido de vista em processos sobre excludente de responsabilidade e custos variáveis unitários (CVUs).
Conclusão Geral:
As reuniões da ANEEL em 2025 demonstram um cenário de intensa atividade regulatória e fiscalizatória no setor elétrico brasileiro. Há um foco contínuo na expansão da infraestrutura (leilões de transmissão, hidrelétricas, sistemas isolados com renováveis), na modernização e na busca por maior eficiência e sustentabilidade. A agência também se mostra atenta à qualidade do serviço prestado aos consumidores (Revisão Tarifária, planos de resultados da fiscalização) e à segurança jurídica dos agentes (debates sobre armazenamento, aplicação de multas). A discussão sobre a regulação responsiva e a proatividade na identificação de pontos de melhoria no ONS sublinham a evolução das abordagens regulatórias para além da mera punição. A questão do armazenamento de energia é uma prioridade estratégica, com a ANEEL buscando um alinhamento cuidadoso com o MME para o futuro leilão.
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