Perspectivas para o setor elétrico em 2025
Análise das Perspectivas para o setor elétrico em 2025
ARTIGO
Halvor Data
2/5/20257 min read

O setor elétrico brasileiro, reconhecido por sua matriz energética predominantemente renovável, enfrenta em 2025 uma série de desafios que moldarão seu futuro.
Questões como o aumento constante de geração distribuída, o aumento crescente dos cortes de geração solar e eólica e a redução da margem de escoamento, ao mesmo tempo em que demandam por modernização da infraestrutura, criam oportunidades na área de armazenamento e diversificação das atividades de consumo em submercados tipicamente exportadores de energia.
Espera-se que o setor alcance novos patamares, com avanços em fontes renováveis, digitalização e uma agenda regulatória robusta. Este artigo explora as principais tendências e perspectivas para o setor elétrico no Brasi associadas com a Agenda Regulatória 2025-2026 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que estabelece 17 atividades prioritárias para o biênio, aqui distribuídas nos grupos de assunto. A seguir, são apresentadas oito principais perspectivas do meu ponto de vista, complementadas por referências específicas que embasam cada ponto.
1. Expansão das fontes renováveis
O Brasil é um dos países com maior potencial para geração de energia renovável, devido à sua vasta capacidade hidrelétrica, solar e eólica e segue investindo significativamente nessas fontes, especialmente em energia solar e eólica. Em 2024, foram instalados 76 novos parques eólicos, totalizando uma capacidade de 3,3 GW.
Embora tenha havido uma desaceleração em relação ao ano anterior, as projeções indicam uma retomada do crescimento a partir de 2027, impulsionada por demandas de indústrias, novos centros de consumo e pelo desenvolvimento de novas tecnologias (Reuters) e pela recente sanção do Projeto de Lei nº 576, de 2021, que autoriza a construção de parques eólicos offshore pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lei nº 15.097/2025)
A geração hidrelétrica, embora ainda seja a principal fonte, deve ver sua participação relativa diminuir devido ao crescimento acelerado dessas outras fontes.
2. Cortes de energia
A expansão da capacidade instalada, no entanto, não foge do fantasma das reduções ou interrupções da geração de energia energia (curtailment), potencializados após o apagão de agosto/2023.
Em 2024, o setor de energia renovável no Brasil enfrentou desafios significativos relacionados ao curtailment. Estima-se que aproximadamente 12.713 GWh de energia foram cortados do sistema, com 74% desse total proveniente de fontes eólicas.
Esses cortes resultaram em perdas financeiras consideráveis para os produtores de energia renovável, totalizando cerca de R$ 1,7 bilhão até outubro de 2024 (Valor Econômico)
Para 2025, as projeções indicam que o curtailment deve permanecer em níveis semelhantes aos de 2024. A Engie, por exemplo, relatou não ter energia disponível em 2024 e prevê percentuais de disponibilidade entre 6% e 43% para o período de 2025 a 2028 (Megawhat)
A manutenção desses níveis de cortes em 2025 seria atribuída às limitações na capacidade de transmissão e a expansão contínua da capacidade instalada de energia solar e eólica, sem o correspondente desenvolvimento da infraestrutura de transmissão e armazenamento, pode agravar esses desafios.
O assunto tem sido intensamente judicializado tanto pelos agentes e associações envolvidos, quanto pelas instituições (Valor Econômico).
Portanto, é essencial, além da participação ativa na construção dos critérios operativos previstos na agenda, que haja investimento em soluções para mitigar o fenômeno, como o aprimoramento da infraestrutura de transmissão, o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia e a implementação de mecanismos de gestão da demanda. Essas medidas são fundamentais para garantir a sustentabilidade e a eficiência da matriz energética brasileira nos próximos anos.
Atividade prioritária da agenda regulatória:
Estabelecimento de critérios operativos para redução ou limitação de geração
3. Desafios climáticos e segurança hídrica
O fenômeno climático La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, está ativo e deve persistir ao longo do verão de 2025. Espera-se que o fenômeno contribua para a geração hídrica, mas também representa um teste para a resiliência do sistema elétrico brasileiro, especialmente devido aos impactos negativos nas fontes eólica e solar. No Nordeste, onde se concentra grande parte dos parques eólicos do país, a La Niña pode reduzir a velocidade dos ventos devido ao aumento das chuvas. Essa correlação inversa entre precipitação e intensidade dos ventos pode impactar negativamente a geração de energia eólica na região (Canal Energia).
A maior frequência de dias nublados e chuvosos, especialmente entre o Nordeste e o Sudeste, também pode limitar a geração de energia fotovoltaica. Estados como Piauí e Minas Gerais, que abrigam importantes parques solares, podem ser particularmente afetados. A diversificação da matriz energética e o investimento em tecnologias de armazenamento são estratégias fundamentais para mitigar os efeitos de variabilidades climáticas.
4. Integração e modernização dos sistemas de distribuição, transmissão e smart grids
A modernização da infraestrutura de transmissão e distribuição é essencial para acompanhar a expansão das fontes intermitentes. O plano operacional de médio prazo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prevê investimentos de R$ 7,6 bilhões entre 2025 e 2029, incluindo a construção de novas linhas de transmissão e transformadores em subestações. Essas ações visam aumentar a capacidade de intercâmbio entre as regiões, otimizando o aproveitamento da geração (Ministério de Minas e Energia).
A digitalização do setor elétrico é uma tendência global, e o Brasil não fica para trás. Até 2025, espera-se que os investimentos em redes inteligentes (smart grids) e medidores digitais aumentem, permitindo maior eficiência operacional e melhor gestão da demanda.
De acordo com a International Energy Agency (IEA), a adoção de tecnologias digitais no setor elétrico pode reduzir custos operacionais em até 25% e melhorar a confiabilidade do sistema. No Brasil, distribuidoras como a Enel e a CPFL Energia já estão implementando projetos piloto de smart grids, que devem se expandir nos próximos anos.
Atividades prioritárias da agenda regulatória:
Revisão dos Submódulos 2.7 e 2.7 A do Proret - Outras Receitas.
Revisão dos Submódulos 2.6 e 2.6 A do Proret - Perdas não técnicas e Receitas irrecuperáveis.
Revisão do cálculo do limite da Parcela B das permissionárias e atualização da norma de retirada do desconto de suprimento.
Regulamentação do Decreto nº 11.314/2022 que trata do fim das concessões de transmissão.
Regulamentação do comitê de governança específica previsto no art. 3º da Resolução CNPE nº 01/2024 (integração de modelos computacionais).
Estabelecimento de ações para aumentar a satisfação do consumidor em relação à prestação do serviço de distribuição.
Aprimoramentos regulatórios para aumento da resiliência do sistema de distribuição e de transmissão a eventos climáticos extremos.
5. Armazenamento
Um dos grandes desafios do setor elétrico é o armazenamento de energia, especialmente para fontes intermitentes como solar e eólica. Até o final do ano, espera-se que o Brasil avance significativamente nessa área, com a adoção de baterias de grande escala e outras tecnologias de armazenamento.
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) prevê que o mercado de armazenamento de energia no Brasil deve crescer exponencialmente, impulsionado pela queda nos custos das baterias e pela necessidade de integrar mais fontes à rede.
Deve contribuir com o avanço o Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência, por meio de sistemas de armazenamento (LRCAP), objeto da Consulta Pública MME nº 176 de 27/09/2024 e previsto para junho/2025.
Atividade prioritária da agenda regulatória:
Promoção das adequações regulatórias para inserção de sistemas de armazenamento, incluindo usinas reversíveis, no Sistema Interligado Nacional.
6. Crescimento da carga, data centers e abertura de mercado
O avanço na abertura do mercado livre de energia é uma tendência marcante. Ainda esse ano, espera-se a definição do cronograma para que consumidores industriais e comerciais de baixa tensão possam escolher seus fornecedores, com a perspectiva de, futuramente, incluir todos os consumidores residenciais. Essa abertura vai aumentar a competitividade e proporcionar melhores condições aos consumidores (IstoÉ Dinheiro).
Vale destacar também o crescimento acelerado de projetos de Data Centers, com potencial de quase 10 GW até 2035 evidenciado pelo MME e cujas soluções estão sendo mapeadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Atividades prioritárias da agenda regulatória:
Aprimoramentos regulatórios relacionados à abertura de mercado na regulação dos serviços de distribuição.
Aperfeiçoamento da regulamentação sobre contratação de uso do sistema de transmissão por consumidores.
7. Sustentabilidade, transição energética e descarbonização
A transição para uma economia de baixo carbono é uma prioridade global, e o Brasil tem um papel importante a desempenhar nesse cenário. Até o final de 2025, espera-se que o país intensifique seus esforços para reduzir as emissões de carbono no setor elétrico, com investimentos em tecnologias limpas e a descarbonização da matriz energética.
A Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) destaca que o Brasil tem potencial para se tornar um líder global em energia renovável, desde que adote políticas consistentes e incentive a inovação. A integração de hidrogênio verde e biocombustíveis na matriz energética também pode ser uma realidade nos próximos meses. O compromisso do Brasil com a redução de emissões de gases de efeito estufa é evidente. O setor elétrico brasileiro emitiu, em média, apenas 55,1 kg de CO₂-eq para produzir 1 MWh, um índice significativamente inferior ao de países europeus da OCDE, Estados Unidos e China. A continuidade de políticas que incentivem a geração limpa e a eficiência energética é crucial para manter essa liderança (EPE).
8. Desafios regulatórios e tarifários
Apesar dos avanços, o setor elétrico brasileiro ainda enfrenta desafios regulatórios e tarifários.
As demais atividades prioritárias da agenda regulatória incluem:
Revisão do Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico – MCPSE
Revisão da Resolução Normativa nº 948/2021 - Critério de Eficiência Econômico-Financeiro.
Definição de ambientes regulatórios controlados (sandbox) para prestação de serviços ancilares - suporte de reativos.
Atualização da metodologia de cálculo dos limites máximos do Preço de Liquidação das Diferenças – PLD.
Conclusão
O setor elétrico brasileiro está em um momento de transição, e nessa fase cabe aos agentes a transformação dos desafios em oportunidades que transformarão positivamente o futuro. A acomodação da expansão das fontes renováveis diante de restrições de escoamento, a digitalização, o armazenamento de energia, a sustentabilidade em paralelo com a implementação da Agenda Regulatória 2025-2026 da ANEEL são pilares fundamentais para o desenvolvimento do setor ao longo de 2025. No entanto, é essencial que o governo, as empresas e a sociedade trabalhem juntos para superar os desafios regulatórios e garantir um futuro energético mais eficiente e sustentável.
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